Fontes da Teologia Sistemática

A teologia cristã é o conjunto de doutrinas que compõem as crenças comuns aos seguidores de Cristo. Tais doutrinas emanam das Escrituras Sagradas em conjunto com a razão, a tradição e a mística (experiência).

As Escrituras

Não se pode fazer teologia senão com base nas Escrituras Sagradas. Essa é a posição da Igreja cristã a partir da Reforma Protestante. Lutero defendia a tese de Sola Escriptura (a Bíblia é a única regra de fé e conduta para o cristão). Ao longo da história, a Igreja Católica Romana criou dogmas (crenças tidas como certas e absolutas), abandonando gradualmente a utilização das Escrituras Sagradas; isso a distanciou das verdades fundamentais ensinadas pelos apóstolos de Jesus. Qualquer assunto de ordem doutrinária que não leva em consideração as declarações bíblicas deve ser tachado como herético, pois parte de fonte humana e ninguém tem autoridade para isso. As Escrituras (e somente elas) têm autoridade para fornecer as informações necessárias sobre os temas da doutrina cristã.

A Razão

Deus nos fez seres racionais, e esse é um dos aspectos que nos torna semelhantes a Ele (Gn 1.26). Então, é natural que o homem absorva o conhecimento das questões doutrinárias por meio da razão. Apesar disso, muitos buscam, na fé, algo que os faça sentir, mas não se mostram interessados em compreender. É verdade que a fé inclui também as emoções, mas não se estriba nelas. “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas” (Jr 17.9). Por outro lado, somos exortados a usar a razão para darmos explicação da nossa fé: “antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós” (1 Pe 3.15). A mente humana está sempre ávida por compreender o sagrado e nunca está satisfeita com o que sabe, sempre quer mais. Essa sede por compreender é saudável à medida que coloca o homem no caminho do aprendizado; porém, torna-se perigosa quando entra pelo caminho da especulação.

Por exemplo, o homem pode ter conhecimento dos atributos de Deus, mas não pode compreender Sua mente. Não temos capacidade para entender a relação entre a onisciência divina (pela qual Ele sabe sobre tragédias futuras) e a Sua bondade (por intermédio da qual poderia evitar tais tragédias). Um assunto não tira o lugar do outro. Deus não pode ser comparado ao homem que ou é uma coisa ou é outra – ou pode uma coisa ou pode somente outra. “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o Senhor. Porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos” (Is 55.8,9). Desse modo, cabe ressaltar que a razão deve trabalhar no sentido de elaborar a doutrina a partir da revelação (as Escrituras Sagradas) em conjunto com a revelação natural, a tradição e a experiência, a fim de organizá-la, distinguindo cada assunto por sua ordem e importância. Há diferença entre conhecer e compreender.

Conhecemos muitos fatos relativos a Deus. Concebemos o divino como algo grande, ilimitado, inigualável, acima de tudo e de todos, e fazemos isso por generalidade, ou seja, entendendo que, para ser Deus, Ele tem de ser alguém assim; mas, quando começamos a perscrutá-lo, a mente se sente desafiada a compreender como se dá esse processo, algo semelhante ao que acontece quando observamos a vida e assistimos à reprodução e ao crescimento dos seres e dos vegetais. Contudo, compete um grande desafio à razão: julgar a credibilidade de uma revelação. A razão julga e decide o que é possível e o que é impossível. Assim tem sido em relação às ciências; a razão exige comprovações. Um fato é científico depois de mostrar comprovações por meio de experimentos considerados suficientes. Do mesmo modo, a razão faz exigências quanto aos fatos relacionados à fé: o que pode ou não ser crido: “Somos, consequentemente, não só autorizados, mas obrigados a declarar anátema umapóstolo ou anjo celestial que porventura nos conclame a receber, como revelação de Deus, algo absurdo ou mau ou inconsistente com a natureza intelectual ou moral com a qual nos dotou”.2

A Tradição

Os judeus dão grande importância à tradição, e isso decorre de uma orientação divina: “para que temas ao Senhor, teu Deus, e guardes todos os seus estatutos e mandamentos, que eu te ordeno, tu, e teu filho, e o filho de teu filho, todos os dias da tua vida; e que teus dias sejam prolongados” (Dt 6.2). Tanto as Escrituras como os costumes que incluem alimentação, vestimentas, comemorações e símbolos sagrados, desde tempos remotos até hoje, são transmitidos de pai para filho entre os judeus. Por causa disso, eles conseguem manter sua unidade religiosa, política e social, mesmo depois de muitos momentos de dispersão. Do mesmo modo, nós, cristãos, trazemos conosco uma tradição doutrinária do aprendizado recebido dos nossos pais, dos cultos, das pregações, da Escola Bíblica Dominical, dos livros, dos periódicos evangélicos e da comunhão com os irmãos.

Mesmo sem ter conhecimento profundo das Escrituras e sem saber como achar textos específicos para explicar determinados temas, um cristão evangélico sabe identificar um assunto que não é compatível com a fé cristã, sendo capaz de reagir na mesma hora. Todavia, os autores partem de um conhecimento prévio da doutrina e, à medida que vão elaborando sistematicamente tais conhecimentos, estes vão ganhando corpo e consistência.
A Mística (experiência) Quando um indivíduo está estimulado por um interesse, sua mente trabalha surpreendentemente. As faculdades mentais são despertadas e a vontade encontra mais disposição. Em momentos como esses, surgem os grandes gênios: pessoas se dizem inspiradas a realizar, criar ou inventar. Muitos atribuem esse estado a uma ação divina, mas isso pode acontecer até com pessoas que se opõem a Deus.

Já entre os crentes, tais momentos tendem, às vezes, a ganhar um viés espiritual, no qual os sentimentos ocupam o lugar da Revelação bíblica. Os entusiastas que ignoram a orientação das Escrituras em busca de sentimentos são chamados, na Teologia, de místicos. Os místicos alegam conhecer o que está oculto a outras pessoas. Para a Filosofia, o misticismo é a intuição que acredita em que Deus pode ser conhecido face a face pelo homem, sem qualquer intermediação. No Cristianismo, há uma crença comum de que o Espírito Santo atua intimamente na vida de cada crente, capacitando-o a acessar o conhecimento de Deus.

De fato, entre os crentes, há manifestações sobrenaturais, principalmente entre os grupos pentecostais; a Bíblia não apenas confirma tais ocorrências entre os crentes do passado como também incentiva a busca dos dons espirituais (1 Co 12.4-16,31). A mística pode ter a sua importância, porém seu caráter é particular, podendo ser compartilhada com um grupo para a edificação deste; mas ela não deve, em hipótese alguma, substituir a revelação, antes deve ser conferida por esta. A mística também compreende a experiência espiritual do indivíduo.

Livro: TEOLOGIA PARA PENTECOSTAIS UMA TEOLOGIA SISTEMÁTICA EXPANDIDA, Vol 1, Pags 11-14

.: AGREGUE CONHECIMENTO E COMENTE ABAIXO .: